“
Ver muito e ler muito aviva o engenho do homem.” Miguel de Cervantes
Estreou
nessa última semana de julho a nova trama das 19:00h, Bom Sucesso, da autoria
da dupla Rosane Svartman e Paulo Halm que já mostraram seu talento na divertida Totalmente Demais. Os dois
primeiros capítulos foram muito bem construídos e nos convidam a continuar
acompanhando a trama. Com muita clareza já nos situaram na estrutura do enredo
e nas linhas de força das principais personagens.
Os
mundos distintos de Paloma (Grazi Massafera, crescendo a cada dia como atriz) e
Alberto (o indiscutível Fagundes) irão se cruzar através de um laudo de um
exame de sangue trocado. A simples e batalhadora costureira do bairro de
Bonsucesso (trocadilho com o título) recebe o diagnóstico fatal que pertence,
de fato, ao empresário dono da editora Prado Monteiro. Esse fato inusitado muda
a vida dos dois. Ela acha que morrerá em breve, ele se sente revigorado com o
falso resultado. Universos completamente diferentes do ponto de vista social se
encontrarão através de um erro técnico de leitura, tema que sustenta de forma
poética a trama. Todavia, há um ponto de contato entre eles: o amor aos livros.
O
enredo, com o comércio editorial como centro, é uma ode à literatura. A protagonista
Paloma, embora não tenha conseguido realizar o sonho de cursar uma faculdade, é
apaixonada por livros e foge do cotidiano sofrido pelas asas da imaginação forjada
pela ficção. Seus três filhos têm nomes de personagens emblemáticos Alice,
Gabriela e Peter. Já nesse inicio vimos citações literárias motivadas pelo enredo contado.
Numa
cena inicial, Alberto falou sobre um livro que é uma releitura da Microfísica do Poder de Michel Foucault,
trama que discute os meandros sinuosos do poder, uma alusão à situação de sua
empresa com a iminência de falência e problemas de sucessão entre os filhos. Em
outro momento, ele em discussão com o filho por discordar do seu estilo de vida
longe dos negócios, comentam Dom Quixote,
e seu filho lê um trecho. O filho quixotesco tenta convencer o pai, Sancho
Pança, de suas escolhas.
Paloma
para consolar sua filha das desilusões afetivas e por ter se atrasado para o
ENEM (tema muito oportuno) retoma Alice
no país das maravilhas, obra responsável pelo nome da menina. E adivinhem?
A jovem quer cursar Letras! Alice é a representação da possibilidade de viver
outros mundos através da imaginação.
Imaginação que guiará Paloma numa cena linda
de volta ao passado para tentar corrigir seu erro de dezessete anos atrás. A
mulher de hoje aconselha a menina de ontem, momento de raro lirismo com uma
iluminação belíssima. Encontro só possível para quem sabe ouvir estrelas...
Vale
notar também o alarme falso da gravidez de Alice, que ainda bem só durou
algumas horas. Tudo não passou de um erro de leitura das benditas listrinhas
azuis, identificadas pelo curioso Peter. Ainda é muito cedo, mas recebo com imensa alegria essa novela que escolheu
trazer para os holofotes o universo dos livros, e como os bons livros q nos
pegam logo pelo começo, acho que não será um erro de leitura.
P.S.
Os autores trabalharam muito bem as referências literárias em Totalmente
Demais, sejam bem-vindos de novo!