Fim de
Babilônia...Outros Édens possíveis...
O capítulo final de Babilônia foi alvo de muitas críticas
por parte de seus telespectadores. De forma geral, não conseguiu transmitir
aquela carga emotiva típica dos desfechos da dramaturgia. Não havia muito a se
resolver no último dia, além do assassino de Murilo (solução pacífica, Otávio e
Oswaldão, pois se o mal foi eliminado pelo próprio mal, nosso senso moral fica
apaziguado). Até mesmo o casamento da mocinha Regina (nossa rainha justiceira),
cena típica dos finais, não foi tão comovente assim.
Destacou-se também na reta final, uma forte tendência para a
verossimilhança. Muitas cenas pareciam ser a continuação do Jornal Nacional, obviamente
ressignificadas pela ficção. As falcatruas do prefeito Aderbal (velha parábola
do lobo em pele de cordeiro) e seus conchavos com as empreiteiras e depois com
o tráfico refletem o nosso cenário factual. Até mesmo a prisão dele e sua fala
de mártir injustiçado (“eu voltarei nos braços do povo”) se encontram com
outros personagens de nossa história politica. A corrupção, mostrada na trama
através de vários prismas, mostra que, como a Hidra de Lerna, quando se corta
um tentáculo, outro cresce. O diálogo de Guto na Boate com seu comparsa
confirma que esse monstro brasileiro, infelizmente não mitológico, continuaria
a ser alimentado por Consuelo (tal e qual a Senhora dos absurdos, personagem de
Paulo Gustavo). O discurso de Teresa na assembleia (pareceu-me uma homenagem à juíza
Denise Frossard), mais um papel brilhante de Fernanda Montenegro, mostra que
alguns Hércules estarão lá tentando deter a fera, resíduos de utopia que
sustentam nosso quixotismo.
Quanto ao final de Beatriz e Inês, inspirado nos filmes Thelma e Louise e em um dos Relatos Selvagens produzidos por Almodóvar, julgo pertinente
com o desenvolvimento do enredo. A relação patológica entre as duas, numa eterna e
cansativa disputa, acabou por matá-las como nas tramas passionais. Como já
disse antes, esse eixo central não empolgou seu público e a novela brilhou com
mais intensidade nos enredos secundários. A exemplo disso, o belo romance de
Rafael e Laís. Nosso Romeu e Julieta revisitado, que à despeito das diferenças incontornáveis
entre suas famílias, fizeram do seu amor vida e combate, inclusive contaminando
com seus ideais Maria José, que ganhou vez e voz através do simbólico gesto de
soltar os seus cabelos, saindo do papel e do figurino que lhes foram impostos.
A cena final do jovem casal trilhando por uma estrada irregular foi uma bela metáfora
de sua trajetória.
O fantasma da audiência atormentou a trama, um ponto a ser revisto em época de TV Fechada,
Redes Sociais, Netflix e outras telinhas que nos fazem desviar o olhar. Concordo
que não foi um novelão daqueles, mas o folhetim venceu com suas belas cenas de
amor e suas multifaces: A paternidade chamando Bento para a vida adulta, a
regeneração de Wolnei, a dedicação sem reservas de Sérgio e Ivan, a mãe
acolhendo Diogo de volta no seu colo, o triângulo insólito-cômico de Walesca (como
abandonar Clóvis?), os beijos polêmicos de volta, todos em uma festa, símbolo de congraçamento...
Édens outros dentro da Babilônia. E amanhã novas emoções nos aguardam, novo
jogo, novas regras...