Para Aleilton Fonseca e seu amor à boa ficção...
O romance Éramos Seis, de Maria José Dupré, entra para a história da literatura e teledramaturgia brasileira (incluindo uma radionovela) como o livro que sofreu mais adaptações para a televisão. A vida de Dona Lola e sua família foi novamente reescrita para essa nova versão que hoje se findou poeticamente no horário das 18:00h. O romance publicado pela primeira vez em 1942 conta a história de uma família e sua casa na capital paulista durante 28 anos, entre 1914 e 1942, período compreendido entre as duas Grandes Guerras e suas mudanças sociais vertiginosas. Meu primeiro contato com o livro foi através de sua publicação pela Série Vaga-Lume nos anos 80. Hoje acho que foi uma erro sua inclusão nessa coleção, pois não se trata de um livro juvenil, mas que bom que muitos jovens o leram...
O romance Éramos Seis, de Maria José Dupré, entra para a história da literatura e teledramaturgia brasileira (incluindo uma radionovela) como o livro que sofreu mais adaptações para a televisão. A vida de Dona Lola e sua família foi novamente reescrita para essa nova versão que hoje se findou poeticamente no horário das 18:00h. O romance publicado pela primeira vez em 1942 conta a história de uma família e sua casa na capital paulista durante 28 anos, entre 1914 e 1942, período compreendido entre as duas Grandes Guerras e suas mudanças sociais vertiginosas. Meu primeiro contato com o livro foi através de sua publicação pela Série Vaga-Lume nos anos 80. Hoje acho que foi uma erro sua inclusão nessa coleção, pois não se trata de um livro juvenil, mas que bom que muitos jovens o leram...
No
romance vale destacar o protagonismo da casa, que ganha estatuto de personagem,
elemento ressaltado na abertura da novela. Durante anos a família de Júlio e
Lola luta para quitar aquela casa, sonho alimentado por anos e objeto de muita
discussão e desavença entre o casal. Sacrifícios imensos foram feitos para o
pagamento da mesma, só concretizado após a morte do pai e de Carlos, o sangue desse foi
parte do pagamento final.
O
remake atual, escrito por Ângela Chaves, trouxe muitas novidades para os
habitantes da casa da Avenida Angélica, para seus vizinhos, agregados e todos
os núcleos da trama. A autora ampliou vários núcleos, costurou temas novos como
feminismo, racismo, arte-terapia e desenvolveu com densidade personagens que
apenas foram citados no livro ou criou mais figuras e histórias paralelas que
enriqueceram a narrativa. A exemplo de Zeca, marido de Olga, que é construído de leve no
livro e foi ampliando de forma incrível na tela com o talento de Eduardo
Sterblitch e sua amada, a excelente Maria Eduarda de Carvalho, rendendo belas
cenas de humor e amor em Piratininga. Aliás o sítio cresceu bastante nessa
versão com as peraltices das
crianças, a passagem de Justina e as
graças de Tia Candoca (maravilhosa Camila Amado) que ganhou ao final dois
prêmios: um namorado e um batom
vermelho.
Creio
que o mais interessante nessa versão foi a possibilidade de reescrever outros
finais, inclusive com a presença de três Lolas em cena (Glória Pires, Irene
Ravache e Nicete Bruno) levando em consideração a potência do nosso tempo. O
final feliz de Lola ao lado de Afonso foi tecido com as tintas da delicadeza de
um amor maduro que teve a paciência da espera e da compreensão como
ingredientes, simbolizada pela Carta de São Paulo aos Corintos na cerimônia do
casamento. Foi bonito ver os dois
juntos, pensando por um momento na felicidade deles antes das dos filhos.
Outro final reescrito com belas tintas foi o de Clotilde, tão sofrida no
romance, teve sua felicidade reescrita ao lado do Sr. Almeida.. Além do sucesso de Durvalina como Cantora do Rádio e o encontro com seu filho.
A
novela ainda foi muito feliz em trazer para trama novos olhares para as
discussões políticas e sociais que permearam a novela através de vários fatos
históricos que atravessam a vida dos personagens. Tivemos
nessa última semana a prisão de Lúcio (Jhona Burjack, revelação de jovem ator
num papel de muita dignidade) numa manifestação que homenageava Rosa de
Luxemburgo, tal cena foi motivo para trazer à tona termos como Liberdade de Expressão,
Comunismo, Fascismo, palavras que voltaram ao nosso palco, infelizmente em
arenas de bipolaridade feroz, dentre
outros momentos que o texto sutilmente dialogava com o calor da hora de hoje.
O
capítulo final foi de uma beleza ímpar, todos irmanados na Ceia de Natal na
casa de Dona Lola, que novamente voltou às suas mãos. Em lugar da solidão do
romance onde Éramos Seis e só restava ela e suas lembranças melancólicas, a
novela nos brindou com um Éramos Muitos em torno da mesa, alimentando nossa
esperança por dias melhores junto aos nossos afetos nos deliciando com as rabanadas douradas...