Findou-se
ontem a magistral trama Mar do Sertão, da autoria de
Mário Teixeira e direção luxuosa de Allan Fiterman. Pense numa novela que só
nos deu alegrias, uma sucessão de acertos e se falhas houve não fez coro no
conjunto exitoso da obra. Terminou, mas seguirá conosco como todas as boas histórias.
O
microcosmo da pequena cidade fictícia do Nordeste como metonímia do Brasil é um
topos que já deu muito certo antes em Sucupira, Saramandaia, Santana do
Agreste, Asa Branca, Tubiancanga, Serro Azul e outras coordenadas imaginárias e que agora se repete em Canta Pedra. Nessa pequena aldeia temos um mundo (Salve,
Tolstoi) com todos os seu vícios e virtudes e a crença esperançosa de que as
pessoas, quando querem, podem melhorar, sobretudo, pela via dos afetos.
Como
bom folhetim, temos no centro da narrativa uma disputa amorosa entre dois
irmãos e a protagonista Candoca, médica destemida, mocinha ressignificada na
coragem e trabalho, mas o amor romântico não foi exatamente o ápice da trama, embora
costurasse muitas pontas dessa bonita colcha de retalhos, fuxicos e lives. A amizade, o amor ágape, foi quem deu a letra nesse
outro cordel encantado. Além da amizade das três Marias (as Pestes, porque
amigo de verdade se xinga sem problema), o afeto dos amigos brilhou na telinha.
Seja
entre Zé Paulino e o Príncipe e os outros “pares da França” (Advogado,
Dentista, Gerente, Leiteiro e cia ), seja entre Xaviera e boa parte do núcleo (Nossa
Amélie sertaneja), com destaque para as crianças, seja entre Catão, Ismênia com
o Coronel redimido, ou na força da relação entre o Padre e a Pastora. E o que
falar da lealdade de Timbó, na pobreza e na riqueza, uma belezura de personagem
esse nosso bom malandro picaresco em oposição ao mundo dos corruptos caricaturais
do poder (Prefeito, Agiota, Delegado) que certamente entra na galeria dos inesquecíveis. Daqueles que passam a fazer parte do nome da novela, A novela de Odete Roitman, a
novela de Carminha, a novela de Félix, a novela de Bibi, a novela de Timbó!
Vale
notar que esse fenômeno é mais comum nas tramas das 21:00 que sempre têm maior audiência e alcance,
mas o danado do Timbozinho, a quem Enrique Diaz deu a alma e junto com sua
Tereza, Clarissa Pinheiro maravilhosa, que trocou de vestido, simples como ela, mas não
de alma e deram um outro destino aos
nossos Fabianos e Sinhas Vitórias, inclusive porque aprenderam a ler e
passaram ajudar seus camaradas! Para
simbolizar a força da amizade, as rosas de Nossa Senhora para Xaviera só podiam
ser amarelas!
Sobre
o capítulo final, o triunfo da justiça deu o tom do bem vencendo o mal, mesmo
que essa sombra cabruquenta sempre ali esteja nos ameaçando como foi mencionando no belo
texto de Zé Paulino na inauguração do açude. Água em lugar de petróleo, porque
Timbó é sustentoso! Não haveria final melhor para Deodora que seu veneno (Bruxa) matar
a única pessoa que importava para ela, o manipulável Tertulinho, a quem em nós despertava
mais piedade que raiva, e amargar sua
pena com seu remorso do que poderia ser diferente.
E Xaviera
prefeita com seu vestido vermelho subindo a rampa com o povo depois de ter sua “ficha
limpa” não é mera coincidência, aquela piscadela do autor para os expectadores
atentos. A vitória da mulher, dos jovens, da imprensa livre, de novas faces no
poder tudo junto e misturado. Ao cortar a fita da inauguração do açude batizou uma nova era em Canta
Pedra e no banho coletivo uma cena de congraçamento com a vitória do amor e da
amizade, com todos os mitos da primavera presentes nos abraços, beijos,
crianças e bebês a caminho. Teve muito “Quero te pegar bebê” com muitos casais
se formando no final, nota especial para Cidão e Casimiro, Mirinho e Cyra,
Coronel e Pastora porque no folhetim romântico o amor redime e transforma vícios em
virtudes!
E a
cena final com a dupla Juzé e Lukete liderando o Bando Anunciador que não mais
chamaria as cenas dos próximos capítulos, mas o final de Mar do Sertão e a
chegada de Amor Perfeito, foi de "torar" como dizemos por aqui. E o elenco se
misturando com toda equipe ( A gente não vê, é quem faz a magia acontecer) cantando e
dançando em total comunhão, com aquela algazarra desorganizada das festas de
rua foi da mulesta mesmo! Porque cantar parece com não morrer é igual a não se
esquecer que a vida é que tem razão...Queria saber fazer um cordel, um xote, um xaxado, um forró para manifestar minha admiração por essa narrativa, mas vai em prosa mesmo! E que venha Amor Perfeito que bebe na fonte de Marcelino Pão e Vinho porque sem as fontes nada criamos, seja nas cacimbas do sertão ou nos vinhos da Espanha.
Perfeita análise, como sempre. Muito boa!
ResponderExcluirObrigada, anônimo!
ExcluirParabéns Alana, análise perfeita, infelizmente a novela acabou, uma das melhores depois de muito tempo. Já estou com saudades.
ResponderExcluirMuito boa mesmo! Fará falta!
ExcluirAnálise brilhante como sempre,pro Alana.
ResponderExcluirMar do sertao ,uma das melhores novelas globais, deixou o gosto de saudade.
Esperava que Tertulinho casasse com Xaviera.O seu desfecho foi surpreendente.
Gostei da cena do veneno, Deodora foi punida naquilo que ela mais amava, literalmente o feitiço virou-se contra a feiticeira!
ExcluirMar do sertão deixará saudades.
ResponderExcluirParabéns pro Alana pela brilhante análise.
Análise brilhante como sempre,pro Alana.
ResponderExcluirMar do Sertão,uma das melhores novelas globais,deixou um gosto de saudade.
Esperava que Tertulinho casasse com Xaviera.O seu desfecho foi surpreendente.
Perfeita análise desta novela que teve um enredo de emocionar, arrancar boas risadas com Timbó e Sababodó, um do bem e o outro da maldade de alguns caricaturada. Enfim... Não demore "vale a pena ver de novo"
ResponderExcluirAh, que análise mais linda, quanto mimo escondido para quem tem olhos de ver... Não vi - nem o ostensivo, nem o oculto -, porque não acompanhei a novela, mas, num "Vale a pena ver de novo", quem sabe?
ResponderExcluirMaravilhoso texto!!!
ResponderExcluirPró, confesso que meus olhos minaram lendo esse texto. Meu Deus, que coisa linda! Quantas referências, em meio a sua percepção. Há um tempo que não acompanho novelas, por diversos fatores, inclusive porque nossa TV "tem um dono" , rsrs. Acompanhei Mar do sertão por flashes e curti muito, acredito que por conta dessa pegada sertânica tão nossa. Acontece que não era só uma pegada sertânica, assistindo ao capítulo final e lendo sua análise percebi mundos e referências que também me cativam . Essa pegada utópica do amor, da justiça da política, da esperança, das letras e artes como possibilidade de resignificação da história é de uma grandeza imensurável, um valor que busco cultivar em cada experiência que vivo. Gratidão, "Sertaneja do mar", da ficção, melhor, da mulesta da vida mesmo.
ResponderExcluirAh, a subida na rampa, de vermelho, depois de se tornar ficha limpa, acompanhada de cadeirante, trabalhadores, crianças, cacique... Não foi mera coincidência mesmo. Foi pra isso que fizemos o "X".
Obrigada, caríssimo leitor! Seus olhos são mesmo especiais!
ExcluirUma análise profunda sobre a novela Mar do Sertão. Perfeita.
ResponderExcluirAnálise perfeita como sempre professora e as referências a posse de Lula subindo a rampa do planalto e ficha limpa só não percebe quem nao fez o L e eu diria mais, ha tempos que o horário das 6 vem produzindo excelentes novelas viu, salvo a exceção anterior Pantanal, nao fosse ela, seria uma sequencia de 3 a 4 intragáveis no horario das 9 já
ResponderExcluirDisse tudo amiga, como sempre. Lindo texto.
ResponderExcluir*Mar de leituras ou entretextos*
ResponderExcluirSopram os ventos da memória
A máxima do Conselheiro
Que o mar vai virar sertão
E o sertão, um mar inteiro.
Inundação da mulesta
Banhou em águas de festa
Todo povo brasileiro.
Olha eu aqui banhado
Por esse mar do sertão
'Arrevirado' nuns versos
Nascidos da ficção
Depois de ler no "Entretelas"
A novela das novelas
Que ganhou repercussão.
Vou catando uns personagens
Emendando sem dar nó
Como fez na trama o herói
Conhecido por Timbó
Mas também gente que malda
QuaisTeodora e Nivalda,
Rolinha de Sabá Bodó.
O coronel redimido
A pastora Dagmar
Que juntamente com o padre
Souberam se combinar
Sendo belas testemunhas
Que o fato de terem unhas
Não precisavam azunhar.
Candoca, bela e aguerrida
Da morte tirou um fino
Mas acertou de verdade
Foi no amor com Zé Paulino
Porque o bem sempre medra
E fincou em Canta Pedra
A base do seu destino.
O romance é muito longo
Para um cordel apressado
Mas não dá para deixar
Uma personagem de lado
Ela trouxe uma nova era
A prefeita Xaviera
Deu no lombo do passado.
Dentre tantas coisas belas
Que o mar do sertão gerou
A potência da leitura
Muito bem se destacou
Como na vida real
A novela, em seu final
Com arte se superou.
Romildo Alves
Olha aí um cordel da mulesta!!!!
ExcluirNão consegui assistir a novela ainda, está na minha lista da globoplay junto com outras que também quero assistir (tendo aula à noite fica impossível acompanhar quando estão passando na tv 😭). Depois dessa análise, Mar do Sertão furou a fila das novelas, vai ser a próxima que verei!
ResponderExcluirVale mesmo furar a fila!
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