“ A Abelha fazendo o
mel, vale o tempo que não voou” Beto Guedes
Nas últimas
semanas, a novela Pantanal tem acertadamente investido em cenas de aprendizagem.
Em diversos momentos, o texto aborda, através de uma gramática afetiva, temas
que aquecem discussões no Brasil em um momento no qual pautas violentas emergem de forma brutal.
Muito
antes das lições de aprendizagem mútua entre Zaqueu e Alcides, nas quais um
ensina ao outro sobre as lidas de cada um, a novela já investia nas longas
conversas entre Dona Mariana e Zé Leôncio, também representantes de mundos
diferentes. O primeiro quer aprender a ser peão, o outro está disposto a entender as
questões homoafetivas e de gênero, com a sinuosidade de suas siglas tão
distantes do mundo de Arcides. Se a relação dos rapazes evoluirá para algo mais
como tem sido sugerido ainda não sabemos, mas que a parceria deles tem roubado
a cena é fato, mostrando a beleza da amizade.
Também
através de um repertório afetivo, Joventino alfabetizou sua Juma, que agora já
lê poesia de Manoel de Barros e clássicos da literatura como O Velho e o Mar de Hemingway, obras que tão bem se encaixam na luta do homem
com a natureza, um dos temas centrais da novela. Juma, excelente aluna, já
ultrapassou a fase de Alfabetização (decodificação) e já sorve as delícias do
Letramento Literário (Será que Cosson gosta dessa novela?) ao alcançar os vários sentidos do texto, inclusive
contagiando outras leitoras. Zefa e Muda, ouviram empolgadas sua recontagem da luta do
Velho com o Mar na captura do peixão a ponto de acharem que ela se referia ao
Velho do Rio. Já não mais aluna, Juma agora também ensina e já podemos considerá-la
como uma Agente de Letramento.
Cenas de
aprendizagem se multiplicam na tela, o apoio incondicional à Maria Bruaca na
casa de Zé Leôncio, um lugar sempre solar e acolhedor, onde se tem mesa farta e
cantoria, em contrapartida à penumbra e escassez de luz na casa de Tenório onde
todas as refeições são marcadas por desentendimentos (Pobre Zuleika, que
escolha miserável!). Maria recebe todo tipo de apoio, inclusive o jurídico, que a
faz ter seus direitos antes sempre sonegados. Lentamente ela vai se tornando
uma cidadã, cada vez mais Maria e menos Bruaca. Irma, que representa uma classe
de mulheres aristocratas e herdeiras, sem vida própria, contribui com o
que tem, ensinando Juma e Zefa a ficarem também perfumosas como ela com sua
rotina de beleza e uma gaveta cheia de cosméticos (Haja publicidade, Ara, larga
mão!). Zé Luca de Nada, que por ter uma boa índole só absorveu do mundo da política
a parte boa, a vontade de mudar o mundo para melhor, desenvolvendo um discurso próprio
baseado em suas experiências.
Há
muitos outros pontos altos na novela como já dissemos anteriormente, a
fotografia, as atuações impecáveis, as questões ambientais, a trilha sonora, a
chance de todas as personagens crescerem sob à luz em algum momento (virtudes
de um elenco relativamente pequeno e com poucos núcleos) e assim esse remake
vai ganhando espaço entre as melhores novelas dos últimos tempos ganhando os rios que correm coração do Brasil e fazendo o que a arte tem de melhor: deleitar e ensinar...
Amei, como sempre, sua explanação. Estou curtindo muito estes envolvimentos dos personagens, cada uma sua visão.
ResponderExcluirPerfeita sua análise, como sempre. Um show!
ResponderExcluirPró Alana como sempre impecável em suas análises.O que dizer de Tenório falando em honra limpa, alegando traição da esposa?Cada personagem à sua maneira nos traz novas discussões.
ResponderExcluirExcelente análise, Alana, como sempre. Através dela podemos ver melhor essa trama tão envolvente! Obrigada. Evlyn
ResponderExcluirParabéns por mais essa delícia de texto. Painho adora a novela e ficou muito curioso em ler seus textos, quando contei a ele que você escrevia estas pérolas. Fiquei de ir enviando pra ele. Obrigada.
ResponderExcluirAnálise maravilhosa, Alana! A novela explora temas urgentes com um viés muito poético. Textos bem construídos e atuações consistentes. Obrigada pelo texto. ❤
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