Estreou essa semana a novela
Além da ilusão, da autoria de Alessandra Poggi, a autora inicia promissoramente
sua primeira novela solo (já colaborou em Malhação
e integrou equipe de Miguel Falabella em Aquele
Beijo, Pé na cova e O sexo e as nega). Nos seus primeiros
dias, os arcos dramáticos já estão instalados com maestria e com promessas que
nos animam.
Tendo como cenário Poços de
Caldas – MG (mundo urbano) e Campos-RJ (mundo rural), o namoro proibido entre
Elisa (Larissa Manoela, está bem, mas me parece um tom ainda de musical)) e Davi (Rafael Vitti, convincente jovem galã) dá o tom no núcleo principal. A
filha do severo juiz Matias e um mágico sonhador têm seu romance interditado
pelos ditames conservadores da época. Esse veto faz com que a jovem enfrente
com valentia seu mundo patriarcal. O amor, representado pela frágil rosa
vermelha, é esmagado à força pelo seu pai, interpretado com destreza pelo Antonio
Calloni.
Ambientada nos anos 30 e 40, a
novela não se detém apenas à ilusão, como o título sugere, embora a atmosfera
feérica reine em muitas cenas de bailes e suspiros e magia. Há como pano de
fundo da trama mudanças políticas propostas por Vargas (jornada de trabalho e
outros direitos já foram mencionados) e outras questões sociais e econômicas,
dentre elas, no mundo rural: A decadência dos engenhos de açúcar com a chegada
das usinas.
A morte do coronel Afonso
(Lima Duarte) é o símbolo da decadência do antigo modo de produção do açúcar
que não consegue competir com as usinas, ou seja, é o anunciado engenho de Fogo
Morto, tão bem marcado na história da nossa literatura pela trilogia de José
Lins do Rego (Menino de Engenho, Banguê e, justamente, Fogo Morto). Aliás, todo
aquele universo de Campos tem um apelo histórico muito forte e recria passagens
de nosso Brasil, como a convivência dos ex escravizados e dos imigrantes
italianos trabalhando para o latifúndio da cana, rendeiros, posseiros e meeiros
estão todos ali tentando sobreviver em meio à tal decadência e pobreza. Há
claramente ainda uma servilidade muito forte e ecos coloniais que gritam em
plena República.
Emergem desse contexto as irmãs
Violeta (mãe da protagonista), Mallu Galli e, Heloísa, Paloma Duarte, que estão
dando um show como irmãs fortes que se amam e se enfrentam em torno daquele
legado decadente. A cena de Heloísa no velório do pai, depois da confissão
desse sobre sua filha, foi muito bem conduzida, trazendo ecos de A crônica da casa assassinada de Lúcio
Cardoso, romance seminal brasileiro.
É sabido, que na segunda fase da trama, nossa mocinha valente será Isa, a irmãzinha de Elisa (observem a pertinência do nome, Isa está contida em Elisa) que adulta também será vivida pela mesma atriz, já que Elisa morrerá e seu amado será condenado injustamente através de uma mentira sórdida de seu pai. Com a passagem de anos, os dois se reencontrarão e a rosa esmagada no passado será revivida.
Vale ainda notar que a trama
está muito bem dirigida por Luiz Henrique Rios, com belos cenários,
jogos de luz, figurinos, diálogos e uma trilha sonora caprichada (divina e graciosa)! Bem, o Engenho pode estra de
Fogo Morto, mas o Folhetim segue vivíssimo, enquanto houver amores, segredos,
lutas de classes, cartas roubadas, gavetas vasculhadas, sangue, honra, humor e a magia da ficção, nós espectadores aqui estamos torcendo por mais um triunfo da
ilusão da arte que nos distraí das dores da vida!