A
novela Amor de mãe tem arrebatado um público ainda fiel ao gênero folhetinesco
e alavancado a audiência do horário já não tão nobre assim, mas ainda muito
respeitado pelos telespectadores. Com as mudanças ocasionadas pelas redes
sociais, já não precisamos esperar o dia seguinte para nas rodas de conversa no
trabalho, nas filas do supermercado ou no transporte público ouvir o que se comenta sobre o capítulo do dia
anterior. Agora em tempo real, através da chamada “segunda tela” ou da “social
tv” já sabemos o termômetro do capítulo no calor da hora, sejam nos grupos de
watts app, sejam nos memes que inundam as redes dentre outros mecanismos do
nosso tempo “esquizosimultâneo”, no qual nunca fazemos uma coisa só.
Todavia,
para além das formas de partilha da contemporaneidade, o que gostamos mesmo,
desde tempos imemoriais, é de uma boa história, com personagens instigantes e
cenas que nos emocionam e nesse quesito Amor de mãe tem se destacado
positivamente. O sucesso de uma personagem, faz com que ela vire metonímia da
novela, assim foi um dia com a novela de Catarina, a novela de Carminha, a
novela de Félix e agora com a novela de Lurdes. Lurdes, uma espécie de mãe de
todos nós, tem roubado todas as cenas da trama e transitado em praticamente
todos os núcleos. A sua força é incrível. Seu texto, caracterização e gestual
nos faz morrer de amor por ela, aliás a direção de arte da novela merece
prêmio, creio que nunca uma casa de pobre foi tão bem detalhada como a de
Lurdes (em eterna obra e feita de remendos com seus objetos que são a cara de
um Brasil que muitos conhecem bem).
Voltando ao tema central da
novela, o amor incondicional das mães, temos muitas nuances em cena. Há limites
para esse amor que beira o maquiavelismo como o de Telma com seus segredos
inconfessáveis? Lurdes para ser uma boa mãe para seus filhos deixou para traz a
sua mãe, aceitamos? Abandonar um bebê por não poder criá-lo imaginando que terá
melhor sorte como a mãe de Camila é compreensível?
Não devemos julgar
moralmente a literatura, sim novela é literatura em outro suporte, nos cabe compreender
que aquilo é plausível na trama (necessidade de verossimilhança) e a trama é
muito bem costurada, aliás todos fios se cruzam na vida das três protagonistas
e o tapete é tão bem tecido que dá espaço para todas as personagens secundárias
também crescerem e figurarem no grande painel. Penha (que virada) é um grande
exemplo disso, ela mesma essa semana em conversa com Magno disse que todos têm seus
erros, sem falar do vilão ambíguo e carismático, Álvaro da Nóbrega, que manda
matar, chora de amor e ouve ópera.
Nessa
semana o epicentro das emoções ficou em torno da volta de Lurdes à Malaquitas
para reencontrar sua mãe. Cenas com misto de riso e lágrimas nos brindaram com
belas sequências que nos remetem ao estilo da direção de Luiz Fernando Carvalho
e das tramas de Benedito Rui Barbosa. A escolha de Zezita Matos como mãe de
Regina Casé foi muito feliz (Lurdes podia mesmo ter sido personagem de Velho
Chico e irmã de Bento e Santo dos Anjos) e o abraço das três, avó, mãe e filha foi um quadro de
puro lirismo, assim como a morte da matriarca carregada de poesia.
As três passeando por aqueles caminhos que
deram inÍcio à trama, metáfora da origem, só podia dar em outro segredo, a mãe
biológica de Camila, que brotou daquele cenário portando revelações que darão
continuidade à história. Dona Maria Santos Silva, que outro nome podia ser,
falou nessa sequência ao ar livre uma frase lapidar: O impossível acontece
todos os dias... Justamente quando a mãe de Camila passava numa carroça, volta
ao principio, mais mítico impossível...
Já
que nos lembramos de Benedito Rui Barbosa, creio que Manuela Dias também
prestou um tributo a Manoel Carlos, o segredo vive nas gavetas, nas cartas e
nos diários... Danilo ao arrumar o quarto do seu futuro filho, esbarra com o
mistério que rege sua vida e mudará o rumo da novela...para não dizer que não
falei de Vitória, personagem que adoro, mãe leoa daquelas com três maternidades
em processo, tenho uma queixa a fazer,
ela ficou pobre demais, demais mesmo, não tinha nem uma reservinha, só a casa
linda e o closet de sex and city? Uma advogada daquelas ia cair nas mãos de
Penha a 25%? Bem botamos na conta do desespero...
São
muitas as faces dos amores de mãe, esse sentimento prismático, mas os amores de
pai também tem de revelado em Magno, em Raul,
em Davi, em Seu Nuno e no grande Durval, só não conte a ele que não sabe
guardar nada....Sigamos! Muitos outros segredos ainda virão à tona nessas outras páginas da vida...
Muito bom Alana. Parabéns.
ResponderExcluirAh, a casa do pobre! Realmente, o olhar foi certeiro nisso e em outros detalhes cuja leitura de Alana não deixa passar despercebido!
ResponderExcluirObrigada, MM. Lembra aquelas resenhas de nossas famílias...
ExcluirBela análise, Alana! Que olhar você tem para a trama!
ResponderExcluirObrigada, sigamos treinando o olhar.
ExcluirAdorei. Belíssima análise, texto maravilhoso.
ResponderExcluirExcelente análise, pró Alana! Realmente, Lurdes é uma das personagens mais cativantes da novela Amor de Mãe.
ResponderExcluirAlana comecei assistir a novela por ser fã de Regina Case. Acho a novela fantástica com amarrações, enrredos, interpretações e com muito amor. Uma delícia a emoção noturna. Relembrando as mulheres da minha vida, todas bem intensas como Lurdes.
ResponderExcluirPatrícia, também estou encantada e envolvida com a trama. Lurdes é a soma de muitas mulheres que conhecemos.
ExcluirTá bom: fiquei emocionada, noveleira que sou
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