Para Flávia Aninger,
uma das melhores leitoras que conheço...
A
novela Bom Sucesso de Paulo Halm e
Rosane Svartman tem se destacado como um agente de letramento poderoso que
entra em nossas casas trazendo o benfazejo sopro da arte literária. A cada dia,
ao acompanhar a trama que gira em torno da inusitada amizade entre Alberto e
Paloma, ganhamos de presente inúmeras referências clássicas da literatura que
vão desfilando de forma prazerosa diante dos nossos olhos.
Aliás,
sobre a amizade dos protagonistas vale ressaltar a citação a dois filmes
magistrais sobre amigos improváveis Vitória
e Abdul (amizade entre a Rainha Vitória e seu súdito indiano já no final de
sua vida) e Intocáveis (amizade
entre o milionário tetraplégico e seu irreverente enfermeiro). Como na novela,
os dois mundos distantes se cruzam e ambos aprendem muito sobre o universo do
outro e se modificam a partir dessa convivência.
Podemos
atribuir à novela dois adjetivos que já ocupam local de força na nossa cultura:
Quixotismo e Bovarismo. Tanto no romance de Cervantes como no de Flaubert os
protagonistas pautam sua existência a partir da influência de suas leituras,
comportamento adotado por Alberto e Paloma e que também se faz presentes em
outras personagens (Alice, Luan, Marcos e praticamente todos que trabalham na
editora).
A
inserção do livro na trama nunca é gratuita, é como se cada citação funcionasse
tanto como personagem ou como narrador que antecipam alguns motes da narrativa.
Ao ler A Letra Escarlate (Nathaniel Hawthorne, 1850), Paloma sofre o drama
da angústia do adultério, evidenciando o dilema que vive entre Ramon e Marcos.
Mesmo procedimento com a leitura de Otelo
(Shakespeare, 1603), obra-prima sobre o ciúme, ou Dom Casmurro (Machado de Assis, 1899), obra-prima da dúvida, vale
ressaltar que Machado de Assis dialoga com Otelo todo tempo no seu magistral
romance. Paloma então se vê como Desdêmona e Capitu, vítima do “monstro de
olhos verdes”.
A
novela traz no centro da narrativa o mercado editorial, através do declínio da tradicional
Editora Prado Monteiro (sobrenome que homenageia merecidamente Caio Prado
Junior e Monteiro Lobato fundadores da Editora Brasiliense) que não encontra mais
espaço para os tipos de livro que publica e precisa se render às biografias das
celebridades para seguir de pé. Uma excelente reflexão sobre os hábitos de leitura dos nossos tempos que consagram os youtubers como fenômenos das redes que migram para os livros. Recomendo olhos atentos para todos que trabalham na editora, dali brotam cenas incríveis com uma interessante diversidade de personagens.
Ainda
vale ressaltar que afora esse universo riquíssimo de referências, Bom Sucesso é
uma história gostosa de acompanhar com vários núcleos interessantes como o da Escola
Dias Gomes (onde pulsa Esporte, Poesia e Rap, Rhythm and Poetry) e seus dramas
comuns ao universo adolescente, com a presença de uma professora que tenta com
todas as armas salvar seus alunos, o antagonismo entre o mundo dos ricos e dos
pobres todos com seus sofrimentos e alegrias (Nana lendo Cem anos de Solidão para seu pai no hospital foi emocionante), as
traições de um vilão malvado, o universo do samba entre outros. O fato de Paloma ser uma
costureira que vai com sua linha e agulha tecendo sua existência entre todos
esses universos nos põe encantados e dispostos a seguir acompanhando essa
história tão vivificante.
No
início da novela, quando Paloma acha que vai morrer pela troca do exame (no
laboratório Flaubert), elemento que fez seu mundo se cruzar com o de Alberto,
na aula de literatura a professora lia A
morte sempre chega cedo de Fernando
Pessoa. Encerro essa nossa conversa com esse belo poema, para nos lembrar que enquanto A indesejada das Gentes não chega devemos iluminar nossa alma com o que há de belo na vida, a literatura
é sempre uma boa companheira de jornada:
A morte
chega cedo,
Pois
breve é toda vida
O
instante é o arremedo
De uma
coisa perdida.
O amor
foi começado,
O ideal
não acabou,
E quem
tenha alcançado
Não
sabe o que alcançou.
E tudo isto
a morte
Risca
por não estar certo
No
caderno da sorte
Que
Deus deixou aberto.
Como sempre, Alana, belo texto! Estou amando esta novela! Bjos, Ângela Vilma.
ResponderExcluirNovela feita sob medida para leitores!
ExcluirParabéns pró pelo texto e lembrar autores consagrados da nossa literatura como Monteiro Lobato e Caio Prado Júnior. A novela a cada dia mostra o poder da literatura.Otima analise acerca dos youtubers que ganham espaço mais e mais.
ResponderExcluirObrigada, sigamos atentas!
ExcluirO fato de você assistir á novela já mostra sua qualidade! Sigamos lendo vida à fora!
ResponderExcluirMais um dos teus textos fantásticos, Alana! Parabéns pelo finíssimo olhar sobre as obras!
ResponderExcluirMerci, colega! Muito bom ter você por aqui!
ExcluirSua palavras iluminam e inspiram, pró Alana. Parabéns por toda sabedoria! Estou amando a novela. Fiquei emocionado ao ler o poema "A morte sempre chega cedo" de Fernando Pessoa.
ResponderExcluirUm abraço.
Muito obrigada! Quem és tu, leitor (a)?
ExcluirO poema é muito forte! A novela é um presente para leitores!
ResponderExcluirNunca assisti a um capítulo da novela, mas, pela sua análise, percebo que perdi belos e raros momentos da tevê. Parabéns pelo texto, Alana.
ResponderExcluirOlá, caro colega. Bom te ver por aqui. Dê uma chance para a novela, você vai gostar.
ExcluirSigo a novela desde o início e agora com o seu olhar quero ler as obras citadas.Obrigada Pró Alana.
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