A
novela Segundo Sol encaminha-se para
o final e segue aquecendo seus espectadores nessas últimas semanas. Como um dos
elementos estruturantes do folhetim tradicional temos a transformação de personagens más em
boas depois de passar por expiações ou também a famosa volta por cima, no
melhor estilo “os humilhados serão exaltadados.” Na primeira categoria temos
Rochelle e Roberval, na segunda Zefa e Nice.
Rochelle,
a infante terrível da Bahia, retrato de uma educação permissiva feita de vontades,
mimos e omissões, protagonizou cenas de caráter desprezível como as armações
contra a irmã, o desprezo pelos pais e desrespeito por todos que ela julgava
inferiores à herdeira do império Ataíde. Agora, vítima da Síndrome de
Guillain-Barré (novela prestando papel informativo, merchandising social),
começa seu aprendizado pela dor, quem antes ela maltratava são os únicos que
lhe estendem à mão e cuidam dela com doação integral. Foi preciso chegar
literalmente ao chão para chamar a mãe de mãe e sentar numa cadeira de rodas
para ver o mundo de outra perspectiva. Já Roberval começa a se curar de tanto
ódio e sede de vingança para novamente merecer o amor de Cacau e no fundo obter o que
sempre quis, um lugar na casa dos Ataíde, mas para isso teve que suar a camisa
de novo, voltar ás origens.
Zefa
e Nice, minhas coadjuvantes preferidas, estão ganhando vez e, sobretudo, voz,
tendo coragem para enfrentar seus homens opressores. A cena de Zefa
intitulando-se como matriarca da família e esbofeteando Severo (símbolo da
decadência burguesa) foi um espetáculo à parte. O seu micropoder antes
silencioso, agora ecoa no casarão em franca dissolução, sobre o qual ela tenta
manter de pé ao menos os laços afetivos. Nice, através de seu dom, está
retemperando sua vida e construindo um novo cardápio de opções ao lado de suas
filhas, enquanto Agenor se dissolve na solidão que provocou ao maltratar todos.
Mas
nem só de redenção vive a trama, embora o Segundo Sol possa nascer para todos. O
casamento de Clovinho e Gorete foi uma comédia musical para ninguém botar
defeito, com direito ao Clown vestido apenas com uma bandeja, creio que ninguém
resistiu no sofá e deu uma requebrada ao som do hit do verão 2019 Sal na pele, um perfeito clip
do axé nos tempos áureos . Quanto ao núcleo principal, a quadrilha de JEC começa a acertar o
compasso da justiça final: Valetim que era filho de Karola que agora é filho de
Luzia que é mãe de Ícaro que é pai do filho de Rosa que era parceira de Laureta
que era irmã de Remi que era filho de Nestor embora pensasse que fosse de Dodô
que é casado com Naná que é mãe de Beto que é irmão de Yonan que é pai do filho
de Maura, aliás doador (Ufa!), não é fácil acompanhar essa genealogia, mas nós
estamos com os DNAs em dias.
Sigamos
nos aquecendo com o Segundo Sol que já começa a se por, mas ainda briha com
fulgor, ainda mais quando aqueles postais de Salvador nos faz crer que a
depender do ângulo a Bahia é a terra de todos os cantos, encantos e axé. Salve,
Pai Groa! Que bom seria se o Delegado Viana recebesse um caboclo em plena invasão do terreiro como num romance de Jorge Amado.
"Baianidade nagô". Síntese precisa. Excelência em discorrer.
ResponderExcluirObrigada, Flaviana! Quem sabe um dia a paz vence a guerra!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSeus textos são um encanto. Parabéns 👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigada, cara leitora! Continuemos com os olhos atentos!
ExcluirTermino a leitura desejando que o compadre Ogum te inspire sempre. Adorei
ResponderExcluirQue todos os santos, encantos e axé nos iluminem!
ExcluirO amor e a dor ressignificam tudo a nossa volta.
ResponderExcluirGrato, querida Alana.
Grata, querido Tiago! Acuremos nosso olhar para o belo da arte, porque o real está sombrio.
ExcluirCaríssima minha, há na trama, como diria o baiano João Gilberto, "um não sei quê que faz a confusão",mas "é luxo só", pois "nunca vi compasso tão brasileiro." No folhetim e na canção, os movimentos são puro Samba, apesar de a novela (re)viver do Axé. Vejo tanto samba no enredo, nas personagens, na fotografia de uma Salvador ainda com tambores tocando em cada canto, em cada conta, em cada rosto: Zefa, Nice, Cacau, Clovinho, Badu, Ícaro e Groa, que de longe veio seduzido pelo som do atabaque de Xangô. Kaô kabecile, Alana, pois as malas estão prontas, e quando tudo for pedra, serei apenas água, amargo e flor.
ResponderExcluirAmigo, vc nos inunda com poesia. Sigamos irradiando luz! Ser feliz nos consome, quem sabe uma dia apaz vence a guerra e viver será só festejar!
ExcluirDescobri seu blog agora estou adorando os textos.
ResponderExcluirParabéns
Obrigada, seja bem-vindo(a)!
ExcluirQuerida amiga e eterna colega, adoro os comentários mas acredito que esta novela teve um teor exagerado da vilania o que provocou em mim uma certa repulsa, desejando o desenrolar dos fatos o fim.
ResponderExcluirA justiça já está chegando, o bom é que na novela os maus sáo punidos.
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