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quinta-feira, 6 de julho de 2017

A força da força do querer


A novela A força do querer vem se destacando como uma boa novidade para o já consagrado currículo de Glória Perez. Longe dos mundos exóticos de Marrocos, Índia ou Turquia, toda a sua ambientação nessa segunda etapa se concentra no Rio de Janeiro-Niterói (Parazinho volta como lembrança e com a força dos seus mitos, a cena da rezadeira foi ótima!)  com toda sua dor e delícia, revólver  e coqueiro, asfalto e comunidade, zona sul e periferia.

Com ecos evidentes da excepcional série americana  Breaking Bad, temos no drama do casal Rubinho/Bibi umas das forças da narrativa. Aquele bom rapaz, vizinho adorável (químico e professor como Walter White, protagonista da série) entra para o tráfico seduzido pela ambição de riqueza fácil e bem-estar para sua família, ameaçada pelos infortúnios econômicos. Bibi (nossa Skyler, inspirada em Fabiana Escobar, personagem da vida real, começa a metamorfose para a Bibi Perigosa). Uma mulher que ama demais como uma personagem de Manoel Carlos, dantes repleta de virtudes morais e aspirante à advogada, está sendo rapidamente levada para esse submundo em lealdade incondicional ao seu marido.

Ela ainda não sabia, mas já cruzou a fronteira e agora já desceu aos infernos também. Cenas simbólicas dessa transformação foram o incêndio do restaurante, sua visita íntima clandestina e ontem sua fuga pelos labirintos do crime acuada pelo cachorro (Cérbero). Pela voz de uma mulher anônima no topo do morro ela ontem soube que já não há volta. É comovente as tentativas vãs de sua mãe em afastá-la desse mundo e revoltante para nós (sim, também sofremos e ficamos com raiva dela ) sua cegueira. Um drama policial daqueles, mediado pelas simbólicas personagens de Jeiza e Caio, exemplos positivos da polícia e da justiça. Jeiza O+ doa-se completamente a sua missão e Caio está sempre intercedendo pelo bem de alguém. A sequência de ontem foi como ver de novo Tropa de Elite.

Para dar um tom cômico nessa trama temos Silvana e suas aventuras de viciada em jogo e suas peripécias para continuar quebrando a banca também. Seus lances de dados ficam cada vez mais perigosos e o pobre Eurico, que acha que tudo sabe e controla, é mais uma peça do seu tabuleiro. Sem contar com a relação engraçada com Dita, mais que uma empregada, uma cúmplice eficiente! Ainda para rimos muito temos  Abel (Tonico Pereira é um dos nossos maiores atores, ainda falta-lhe o papel que merece) e Ednalva, naquela já conhecida antipatia que já sabemos onde vai dar, exatamente como em Muito barulho por nada, deliciosa comédia de Shakespeare ou para ser fiel à cultura de Parazinho: - Quem desdenha quer comprar!

Não podemos deixar de destacar a personagem de Nonato/Elis, interpretado magistralmente pelo jovem ator de teatro cearense Silvero Pereira. Sua personagem literalmente rouba a cena, o desconforto do paletó dá lugar à autoestima estonteante quando está pronta para o show. Ainda na trilha do labirinto da sexualidade temos Ivana, a também estreante Carol Duarte, brilhando com seu drama íntimo que aponta para a transsexualidade, conceito de teoria de gênero ainda tão mal entendido. Vale lembrar também de Biga (nossa Marcelina) e seu charme sexy fora dos padrões estabelecidos! Quem precisar de Natura é só falar com ela, bela sacada ser consultora de beleza.

A autora é muito eficiente em representar núcleos familiares, observemos que dentro de cada casa há conflitos a ser contados, há problemas e soluções, há afeto e desavenças como em todos os lares do mundo. A questão polêmica do tal jogo assassino Baleia Azul foi muito bem explorada sob diversos ângulos. Glória sempre explora causas sociais em suas histórias, só por essa exposição tão didática do que se trata essa ameaça para nossas crianças e nossa falsa ideia de segurança “com os meninos quietinhos no quarto” já me senti contemplada como mãe e educadora. Novela, assim como toda arte, não é só entretenimento, pode também despertar consciências.

Continuemos de olho e enredados pelo Canto das Sereias, como nos ecos que aparecem nos  finais dos capítulos ...Glória, Glória!

 

11 comentários:

  1. Amiga, és a co-autora do folhetim: verdades do querer com força de glórias dadas sem nem percebermos. Mas, porém, todavia, entretanto, sinto falta, aqui, das tão importantes mulheres de uniformes que seguram as tramas nas duas principais famílias da história: as ditas"empregadas". Também, não notei linhas para destacar a força do querer na interpretação da personagem de Elisângela. No mais, que o boto deixe Glória prenhe de quereres para o nosso deleite.

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    1. Obrigada, fino colaborador, sim as empregadas roubam a cena...são onipotentes e oniscientes nas casas...falei um pouco sobre na primeira postagem...Elisangêla brilhante como mater dolorosa está contemplada (comovente tentativas vãs de sua mãe)...Continuemos nos deleitando!!!!

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  2. Alana,
    como sempre, sua análise é perfeita. Já gostava da trama, agora mais ainda. Que venham seus comentários !

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  3. Apaixonado pela novela e, como sempre, também apaixonado por suas palavras. Continue nos deleitando, isso nos faz bem. Parabéns.

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    1. Obrigada, caro e competente leitor. Também estou gostando da trama, um belo folhetim com todos os ingredientes que nos fascina.Continuemos em diálogo!

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  4. Me rendi a trama de Gloria Perez após alguns anos de antipatia. Boa, atual, enxuta e divertida, a novela prende. Também considero Tonico Pereira um ator e tanto, mas a “Dona Amorzinho” fazendo uma personagem amoral, trapaceira, mentirosa e cara de pau mas que mesmo assim o público torce por ela, é coisa de artista muito grande. A única coisa ruim da trama é Fiuk, que não consegue interpretar nem a si mesmo. Moça, Deus conserve essa sua lupa pra ver tanta coisa que passa despercebida.

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    1. Caro leitor, obrigada por sua leitura colaborativa e generosa. Fiuk é de fato um erro, some de tão pálido junto a tantos atores de ofício. Lilia Cabral é nossa Meryl Streep, faz qualquer papel crescer em suas mãos. Sigamos atentos com nossas lupas afiadas!

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  5. Não assisto a novelas, mas pelas resenhas dá até vontade de assistir. Sempre atenta às questões humanas. Obg

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  6. Obrigada, Tetê! Sua leitura de atriz me envaidece e me anima a continuar tecendo essas entretelas!

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  7. Parabéns, Alana! Pelos dois anos e por mais um texto impecável!

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