A novela das 19:00h geralmente é marcada por tramas cômicas
e leves. Como num laboratório no qual se realiza experiências diversas (novos
autores, novos atores, novas fórmulas), porém sem explodir nada. Ela
cumpre sua função de entretenimento sem causar grandes discussões nacionais,
como costuma acontecer nas tramas das 21:00h, pintadas através de tintas mais
fortes.
Com Totalmente
Demais não foi diferente. Há
muitas novidades na trama, tais como: Comediantes fazendo papeis que lhe exigem
mais que fazer rir (Dorinha e Zé Pedro ), estreantes brilhando como
coadjuvantes (Lu e Max!!!), cantores convencendo na interpretação
(Montanha), até capítulo final em uma segunda-feira (30-05), dentre
outras boas novas. Tudo isso sob a batuta de dois novos regentes, Rosane Svartman e Paulo Halm.
Todavia, as tramas se
sustentam mesmo é da permanência e não da ruptura. Todas elas seguem algumas
matrizes, temas que costumam se repetir sempre. São os chamados Plots, espécies
de espinha dorsal da narrativa. As novelas, assim como a maioria dos romances,
são multplots. Doc
Comparato elencou vários deles em seus escritos sobre teledramaturgia. Vejamos
os principais que aparecem nessa trama e em muitas outras:
1 PLOT DE AMOR: Um casal que se ama é
separado por alguma razão, volta a se encontrar e tudo acaba bem;
2. PLOT DE SUCESSO: Alguém que ambiciona o
sucesso, com final feliz ou infeliz, de acordo com o gosto do autor;
3. PLOT CINDERELA: É a metamorfose de uma
personagem de acordo com os padrões sociais vigentes;
4. PLOT DO TRIÂNGULO: É o caso típico do
triângulo amoroso.
Os leitores e espectadores já devem ter
reconhecido as várias personagens e seus dramas representados nos plots acima (além de lembrar de outras
tantas novelas sustentadas nesses alicerces). Elisa/Jonatas (1, 3 e 4),
Carolina/Artur (1, 2 e 4), poderíamos remontar e brincar com esses
números em variadas combinações, com jogos de triângulos para todos os lados. E, veríamos ainda mais, se lançássemos nosso olhar para outros pares e trios como
Florisval/ Rosângela, Lili/Germano e para outros núcleos mais secundários da
narrativa.
O novo na novela e na literatura parece mesmo
consistir em recontar o velho de uma nova maneira, através de histórias que
continuem a nos interessar, a nos encantar e a nos manter curiosos pelo final.
Como o sultão de Sherazade que adiou sua morte por 1001 noites, só para saber o
final da história e acabou por se apaixonar e querer ouvi-las pelo resto
de sua vida.
Totalmente Demais soube explorar bem as
novidades e caminhar na trilha segura da tradição. O final se guia pela famosa
pergunta: Com quem ficará Elisa? E nós torcemos por Jonatas, herói cheio de
virtudes cavalheirescas. Porque também torcemos por uma Carolina redimida
ao lado de Artur, Gabriel e Jojô. Juliana Paes fez um bom papel, foi da
temível protagonista de O
diabo veste Prada à
descontrolada e frágil mulher que ama demais e que agora dá lugar à mãe
devotada, capaz de amar incondicionalmente uma criança fora de todos os padrões desejados pela maioria das pessoas que buscam adoção (o discurso da juíza que lhe deu a
guarda foi emocionante). Logo, a dantes vilã merece a redenção e um final feliz
na lógica da ficção.
Além de O
diabo veste Prada, a novela lançou mão de muitas outras fontes de
inspiração. Chaplin, Bonequinha de Luxo, E o vento levou, dentre
outras referências cinematográficas, dividiram o palco com as leituras de
poesia constantes de Artur, que curava suas dores através do consolo dos livros
e com muitas músicas do nosso cancioneiro popular, a embalar as dores de cotovelo
das personagens. Nem só dos bastidores da moda e da publicidade viveu a novela,
os fios intertextuais também fortaleceram o tecido e fizeram dela um bom
refúgio para os intervalos dos noticiários.
As loucuras de Cassandra, os dramas dos que
sofrem de fartura e de miséria, a crueza das ruas, a magia do cinema, a
interpretação de Glória Menezes e Reginaldo Farias e os preconceitos múltiplos
trouxeram bons e necessários momentos na pausa do cotidiano.
E como não há mesmo nada de novo sob o sol, mas
continuaremos buscando seu calor, semana que vem teremos remake de Sassaricando. Haja coração!
Alana, como sempre, você nos surpreende com suas análises . Como disse um amigo nosso, você vê o que muitos não veem. E faz com que fiquemos aguardando seus comentários. Obrigada.
ResponderExcluirObrigada, amiga leitora, vamos apurando nosso olhar com a ajuda de vocês.
ExcluirAnálise, como sempre,precisa. Parabéns, pró.
ResponderExcluirObrigada, então os linguistas também gostam de novelas. eja bem-vindo!
ExcluirBelíssima análise querida, já havia perdido este olhar literário pelas novelas da globo, vc despertou novamente a antiga espectativa leitora, estou revendo meus conceitos. Bjs.
ResponderExcluirNossa, que grata presença. Caríssima leitora, creio que é uma questão de ajustar as lentes e conseguimos enxergar umas coisinhas a mais. Velho Chico tem tido cenas de rara beleza. Continuemos em diálogo!
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