A novela das seis geralmente é
caracterizada por trazer à cena narrativas leves que vão preparando o
telespectador gradativamente para os horários posteriores das 19, das 21 e, mais recentemente, das 23. A
sequência seria mais ou menos assim 18/19/21/23, leveza/humor/peso/peso-pesado,
gradação baseada na densidade das tramas e complexidade das personagens.
A atual trama das 18:00 da Rede
Globo, Sete Vidas, de Lícia Manzo (já
havia mostrado seu talento em A vida da
gente) experimenta um doce sucesso, mesclando dosadamente essa gradação. A
um só tempo ela retempera o quarteto leveza/humor/peso/peso-pesado, a partir de
uma história muito bem construída através das Sete Vidas anunciadas no título.
Essas Sete Vidas, na verdade oito contando com Júlia(Isabelle Drummond), jovens
que têm por ligação serem filhos de um mesmo doador, funciona como um
catalizador para as outras tramas paralelas que, de alguma forma, se interligam
com essa árvore genealógica de vanguarda. Note-se que não se trata de um mesmo
pai e sim de um mesmo material genético, o que já é por si inovador, pois o
tema é muito novo e suscita muitas dúvidas quanto à legitimidade desses laços.
A novela tem sido uma grata
surpresa ao trazer para nossa sala temas como psicanálise, crianças especiais, dislexia,
novas composições familiares, ecologia, vocações e etc., sem ser panfletária ou
moralizante. Mas, de fato, no que ela é melhor é no tratamento que dá as
diversas relações humanas, explorando com muita delicadeza os meandros dos
relacionamentos. Sejam eles fraternos, maternos, paternos, conjugais,
profissionais e entre amigos, a vida vai seguindo através de diálogos
impecáveis que nos prende no sofá por uma hora, torcendo para ouvir de novo a bela
música e imagens da abertura assim que acabam os comerciais. Nessas relações há
um destaque especial para os amores maduros, para as mulheres fortes ao lado de
homens vacilantes e para os amigos à toda prova.
Outro aspecto que chama a atenção
e traz frescor para a história é a ausência de vilões. Aqui não há o velho
maniqueísmo que sustenta a literatura há milênios, o inimigo somos nós mesmos,
nossos desejos e nossas escolhas. Não há um mal a combater e sim nossas
fraquezas e angústias cotidianas na busca da felicidade. Some-se a isso a
presença de grandes atores de diversas gerações e formações diversas (Regina
Duarte, Domingos Montagner, Cyria Coentro, Débora Bloch e o jovem Guilherme
Lobo, brilhando como Bernardo), trilha sonora refinada e uma pujança de referências
culturais (ópera, literatura, pintura).
Eis uma belo mosaico do
humano. Leve, sem deixar de tratar dos temas pesados da vida, bem-humorada,
mesmo quando o assunto é peso-pesado. Assim como a vida, a dos outros e a da
gente, sejam de sete pessoas ou de todos os seu múltiplos. E a fórmula é muito
simples: Todo mundo gosta de ouvir boas histórias e, como o sultão de Sherazade,
vamos acompanhando e esquecendo dos
nossos próprios enredos...É a magia da ficção que continua a nos encantar a
despeito do peso-pesado da vida...
Parabéns, Alana!! Apaixonada pelos seus textos!!
ResponderExcluirObrigada! Que nosso diálogo continue!
ExcluirParabéns, Alana!! Apaixonada pelos seus textos!!
ResponderExcluirEu preferi a trama de estréia de Lícia Manzo. Não sei explicar, mas penso ser clássico quando se trata de telenovela. Então, eu entendo novela com protagonista e antagonista, vilões e mocinhos e mocinhas cindereladas. Me pareceu mais uma série típica norte-americana, em que quase todo mundo é rico ou tem uma vida muito estabilizada. Faltou a cara do Brasil, uma pitada grande da nossa cultura de massa. Me incomoda as coisas muito rasas e suaves em uma novela. Que você me perdoe, mas prefiro os novelões com a nossa cara sulamericana. Afinal, não só de pão vive o homem.
ResponderExcluirEu preferi a trama de estréia de Lícia Manzo. Não sei explicar, mas penso ser clássico quando se trata de telenovela. Então, eu entendo novela com protagonista e antagonista, vilões e mocinhos e mocinhas cindereladas. Me pareceu mais uma série típica norte-americana, em que quase todo mundo é rico ou tem uma vida muito estabilizada. Faltou a cara do Brasil, uma pitada grande da nossa cultura de massa. Me incomoda as coisas muito rasas e suaves em uma novela. Que você me perdoe, mas prefiro os novelões com a nossa cara sulamericana. Afinal, não só de pão vive o homem.
ResponderExcluirRealmente, foi uma trama diferente. O Brasil tem muitas caras, essa, mais introspectiva, também faz parte do nosso mosaico.
ExcluirEu preferi a trama de estréia de Lícia Manzo. Não sei explicar, mas penso ser clássico quando se trata de telenovela. Então, eu entendo novela com protagonista e antagonista, vilões e mocinhos e mocinhas cindereladas. Me pareceu mais uma série típica norte-americana, em que quase todo mundo é rico ou tem uma vida muito estabilizada. Faltou a cara do Brasil, uma pitada grande da nossa cultura de massa. Me incomoda as coisas muito rasas e suaves em uma novela. Que você me perdoe, mas prefiro os novelões com a nossa cara sulamericana. Afinal, não só de pão vive o homem.
ResponderExcluirSete Vidas é como um livro que precisa ser relido com atenção à cada palavra. Eu compartilhava da mesma sua opinião, mas, agora que estou revendo essa obra, percebo o quão perfeita ela é. Já não tenho mais lágrimas para chorar. Lícia Manzo toca em feridas cotidianas, nos faz nos ver em cada personagem, seja no adolescente rebelde que se compara com os outros, seja na mulher que vive sufocada com o trabalho e não tem tempo nem para usufruir o dinheiro que ganha. Sete Vidas também nos faz questionar valores e pensamentos enraizados sobre temas delicadíssimos. Paguei minha língua por ter chamado de chata a novela que hoje, graças ao Globoplay, é a minha preferida.
ExcluirCara leitora desconhecida, muito obrigada pela leitura atenciosa. Realmente é uma trama de rara sensibilidade.
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