Meu pedacinho de
chão passa a ser um marco na teledramaturgia brasileira. Ultrapassando a sua
barreira de remake, Benedito Ruy Barbosa impõe seu talento de dramaturgo.
Construída a partir de linguagem e cenário teatral, tem a capacidade de nos
transportar no fim das tardes para um mundo mágico onde tudo é possível,
exatamente naquele horário no qual já estamos saturados da realidade do dia.
Luiz Fernando Carvalho impõe sua assinatura de
diretor com letras maiúsculas, antes já desenhada em obras como Hoje é dia de Maria e Capitu. Marcada pela presença das cores
e da força do universo onírico, nos colocamos diante de personagens que nos põem
em suspensão temporária da descrença como queria Coleridge e embarcamos no
mundo do faz de conta, fazendo de conta e aceitando todas aquelas fantasias
como possíveis, pois aquele universo é fixado através do olhar das crianças,
narradores privilegiados que vão costurando a trama, com destaque especial para
Menino Serelepe, amálgama de tantos outros ecos ficcionais (Pequeno
Príncipe/Peter Pan/João Grilo/Pedro Malasartes e cia).
Através de
personagens tipos que vão se adensando ao longo a trama, temos todo o
microcosmo da sociedade de qualquer tempo e espaço (O CORONEL/O PADRE/O
ARTISTA/O COMERCIANTE/O POLÍTICO/O IDEALISTA/A PROFESSORA/O MÉDICO), mas com
uma forte sugestão de elementos da cultura brasileira como a excelente
rezadeira/parteira Mãe Benta ou os simbólicos “agregados quebra-faca” como
Rodapé e Zelão. Aliás, esse último roubando a cena na sua trajetória de
anti-herói que vai se tornando herói através da redenção amorosa e do
conhecimento.
Quanto ao
cenário, figurino, maquiagem creio que não há o que comentar, a beleza é tanta
que extasia. O texto é impecável, com tantas sutilezas e citações que nos eleva
como leitores. Como toda boa obra literária, critica sem ser panfletária, chama
a atenção para problemas reais através da alegoria e vai cumprindo seu papel de
divertir e advertir. Por aqui fico porque já vai começar mais um capítulo, “trabaiei
fiz mais do que pude, que nunca me farte...”
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